Dúvidas sobre a B12

Estou cheio de dúvidas sobre a vitamina B12 …

Esse assunto não é polêmico, mas tenho recebido diversas dúvidas por e-mail e dos pacientes que atendo devido a dados desencontrados, tanto de profissionais de saúde, quanto de pessoas adeptas ao vegetarianismo ligadas a filosofias e à espiritualidade. Assim, conversaremos sobre alguns questionamentos pertinentes à ela nesse texto.

Apenas para relembrar: vitamina B12 só é encontrada em carnes, leite, queijos, ovos e suplementos.

Por que antes as pessoas não falavam da deficiência de vitamina B12? Essa descoberta é recente?

Os maiores estudos científicos com populações vegetarianas começaram a ser publicados na década de 70. Esses estudos começaram a demonstrar que os vegetarianos tinham baixa ingestão de B12 (no caso dos ovolactovegetarianos) ou nula (no caso dos veganos).
Em novembro de 1993, o parecer oficial da Associação Dietética Americana já recomendava, explicitamente, que os vegetarianos fizessem a suplementação dessa vitamina.
Portanto essa recomendação é antiga e deveria ter sido adotada oficialmente pelos profissionais que trabalham com vegetarianos pelo menos desde 1993.
Não se falava dela antes, provavelmente, pela escassez de profissionais atualizados que pudessem fazer um trabalho cientificamente coerente, com vegetarianos.

Conseguíamos B12 do solo e da pouca higiene dos alimentos na antiguidade?

Provavelmente, e historicamente não. Não vou entrar em aspectos religiosos da existência humana, mas apenas em questões históricas.

Há mais de 3 milhões de anos existiu um hominídeo que chamamos Paranthropus bosei . Segundo as suas características fósseis eram vegetarianos. Esse hominídeo não era exatamente como nós, e se alimentavam de partes dos vegetais que nós hoje não conseguimos. Eles foram dizimados na era das glaciações, pois houve escassez de alimentos vegetais.

Todos os demais hominídeos, incluindo os nossos descentes, eram onívoros. Eles comiam carne e, no caso de muitos deles, não era pouca.

A idéia do ser humano antigo numa vida completamente harmônica com a natureza não encontra respaldo em inúmeras pesquisas. A vida era bem selvagem (talvez não menos, mas uma forma diferente da que é hoje).

A história da medicina e nutrição mostra claramente as inúmeras carências nutricionais que sempre existiram, mas que não eram diagnosticadas por falta de conhecimento na época. As descobertas vieram aos poucos, como é de se esperar.

Os nossos remotos ancestrais conseguiam a B12 porque comiam carne mesmo.

Se precisamos suplementar a vitamina B12 quer dizer que a dieta vegetariana não é adequada ao ser humano?

Não, não quer dizer isso.

Em diversos ciclos da vida e condições orgânicas pode ser necessário o uso de suplementos. Isso pode ocorrer por baixa ingestão dos alimentos ou nutrientes, por dificuldade de retirarmos o nutriente do alimento ou por problemas no organismo que fazem com que a sua absorção, utilização ou perda seja comprometida.

Todas as descrições que farei agora são para as pessoas onívoras.

Como exemplo, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que todas as crianças, dos 6 meses aos 2 anos de idade, recebam suplementação de ferro, frente ao elevado índice de anemia nesse período. É estimado que metade das crianças com menos de 5 anos e 1/3 das gestantes no Brasil tenham carência de ferro.

A suplementação com ácido fólico é feita para mulheres que querem engravidar. Diversos obstetras prescrevem rotineiramente suplementações vitamínicas e minerais para gestantes. O último trimestre da gestação, freqüentemente, exige aporte de ferro extra, com suplementação.

O Instituto de Medicina dos Estados Unidos recomenda que as pessoas com mais de 50 anos de idade utilizem suplementos de B12, pois 30% dessa população se mostra deficiente dessa vitamina.

O iodo é adicionado ao sal que consumimos, para que esse mineral chegue a pessoas que moram em regiões distantes do mar. A sua falta causa sérios problemas mentais em crianças (cretinismo), além de dificuldade de produção de hormônio da glândula tireóide.

A fortificação das farinhas com ferro e ácido fólico não visa atingir os vegetarianos, mas sim a população onívora.

Como você pode notar, mesmo os onívoros estão sujeitos a diversas deficiências nutricionais.

O fato que incomoda alguns profissionais de saúde é o fato de que mesmo com uma dieta bem balanceada, uma dieta vegana não supre todos os nutrientes (por causa da B12). Esse incômodo pode ser entendido pela falta de visão sobre o que é saúde, que algumas pessoas podem ter.

Lembre-se de que a Organização Mundial de Saúde define a saúde como “o estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”.

Alguém que olha para o animal e sente o seu mundo interno (emocional, mental) abalado, não terá a saúde completa. O suplemento de B12, para garantir a saúde orgânica em prol dos ideais éticos (seja pelo próprio corpo, pelo meio-ambiente ou pelos animais) pode ser completamente justificada.

Há pessoa que são vegetarianos há anos e não têm sintomas de deficiência de vitamina B12. Como explicar isso?

O nosso organismo pode estocar a B12 por muitos anos.

Uma pessoa com bom estoque de B12 precisa absorver, diariamente, 1 mcg de vitamina B12 proveniente da dieta para manter os bons níveis dela.

Por meio da secreção biliar, 1 a 10 mcg de vitamina B12 são lançados diariamente no intestino e ela pode retornar para o sangue após ser absorvida. Assim, conseguimos “reciclá-la” evitando a sua perda intestinal por meio desse ciclo que chamamos êntero-hepático (do intestino para o fígado). No entanto, mesmo com esse ciclo preservado, pequenas perdas de B12 para as fezes ocorrem e os seus níveis sanguíneos são reduzidos. Assim, quem não ingere B12, vai perdendo gradativamente a que tem no organismo.

Pessoas que são vegetarianas há muito tempo podem não ter sintomas de deficiência, mas apresentam níveis baixos dela. Com isso, compostos que dependem da B12 para serem metabolizados ficam alterados e isso é nocivo para a saúde. Estar assintomático não significa estar saudável.
Lembre-se que diversas alterações orgânicas são assintomáticas, mesmo sendo nocivas. Para ilustrar, o colesterol elevado não traz sintomas, assim como o início de problemas renais e hepáticos também não. Muitos órgãos no nosso corpo “avisam” que estão com problemas apenas quando o seu comprometimento limita 70 a 80% das suas funções. A sua artéria carótida (que fica no pescoço e leva sangue ao cérebro) pode ter uma obstrução (entupimento) de mais de 50% e não trazer sintoma algum.

Não é prudente aguardar os sintomas aparecerem para verificar o que ocorre. Um bom profissional de saúde está apto a fazer uma avaliação para verificar como está a sua saúde.

Só após 5 anos de dieta vegetariana devo começar a me preocupar com a B12?

Claro que não! Essa idéia surge pelo fato de podermos estocar a B12 e o estoque ser possível para o seu uso por 3 a 5 anos.

Preste bem atenção: a matemática nem sempre serve para as ciências biológicas. E nesse caso, definitivamente, não serve!

O cálculo do estoque que dura 5 anos é teórico. Além disso ele parte do princípio que o estoque está cheio no momento que a pessoa se torna vegetariana. Ledo engano!

Tenho pacientes, vegetarianos há 1 mês, com deficiência de B12. Claramente o problema não é devido à dieta vegetariana, pois o tempo de prática dela não seria suficiente para isso. Há fatores orgânicos e dietéticos que influenciam o estoque de B12.

Outro ponto de atenção se faz ao indivíduo que é ovolactovegetariano ou lactovegetariano e se torna vegano. Essa pessoa, quase que certamente, já tem níveis mais baixos de B12 ao se tornar vegana. Quanto tempo vai durar o estoque dela? Não dá para saber.

Portanto, você deve avaliar a B12 desde já. Todo profissional que recebe no consultório alguém que tem e intenção de se tornar, ou que já é vegetariano, deve dosar os níveis de B12 dessa pessoa imediatamente, não importando o tempo de dieta seguida.

Todo profissional que acompanha vegetarianos deve solicitar a dosagem de B12 na primeira consulta, independente da pessoa ter sintomas ou do tempo que é vegetariana.

Não falo isso apenas baseado em estudos publicados, mas sim pela experiência em consultório. Tem muito vegetariano com baixos níveis de B12!

Ciência e espiritualidade

Não existe diferença entre ciência e espiritualidade.

Ciência é um conjunto de métodos lógicos que permitem a observação sistemática de fenômenos empíricos visando a sua compreensão. A idéia de buscar uma explicação satisfatória que demonstre o funcionamento das leis físicas e divinas não exclui a rejeição do “sobrenatural”. No entanto, esse “sobrenatural” também tem regras que devem ser descobertas.

Se alguém diz que consegue materializar a B12 no seu próprio organismo sem ingeri-la, e após análise verificamos que realmente isso ocorre é porque há leis para isso. Essa pessoa tem algo diferente que permite isso. A ciência simplesmente vai investigar, sem preconceitos, como isso pode ocorrer.

Um pesquisador que utiliza animais em experimentos está tentando fazer ciência, da mesma forma que outro que repudia essa atitude. Ambos estão atrás de respostas, mas com conceitos éticos completamente divergentes. Não confunda: ciência busca explicações. O ser humano é que escolhe como fazer isso: de forma ética ou não.

Podemos aplicar a ciência em todas áreas da nossa vida, desde os relacionamentos humanos, nas áreas mais técnicas da biologia e das ciências exatas, assim como nas religiões e filosofias espiritualistas.

A ciência e a espiritualidade devem chegar ao mesmo consenso. Quando isso não ocorre é porque uma delas, ou ambas, ainda não conseguiu decifrar as leis de funcionamento da vida.

Cuidado com o ser humano: gostamos de ouvir aquilo que gostamos de ouvir. Sem imparcialidade não há condições de um julgamento adequado. Quem defende um ponto de vista de forma parcial não pode ter uma visão ética dos seus propósitos.

Não são as leis divinas que têm que se adaptar às nossas convicções, mas sim as nossas impressões se ajustarem às leis divinas após exaustivas verificações com olhar não tendencioso.

Seja neutro nas suas avaliações e confira os resultados com a prática.

Seja qual for a filosofia que você segue, não descuide da B12, pois ela é o principal ponto de atenção nas dietas vegetarianas.

Tratamento da deficiência e manutenção são coisas diferentes

Quando a pessoa está com deficiência há necessidade de tratar a deficiência, elevando os níveis de B12 para valores seguros. Após a pessoa ter níveis adequados de B12, o suplemento ou a alimentação, é utilizada para manter esses níveis adequados.

Assim, a dose e freqüência de uso da B12 para tratar a deficiência são diferentes da dose utilizada para a sua manutenção.

O custo da B12

A B12 é muito barata. De todas as formas possíveis de uso, a forma injetável é, sem dúvida alguma, a mais barata. Apenas para se ter uma idéia, é possível comprar 3 ampolas de B12 pelo valor de cerca de R$ 10,oo, sendo que para a manutenção utilizamos 1 a 2 ampolas por ano.

Absorção da B12

Após ingerida, retirada do alimento (o que depende em parte do ácido do estômago), ligada ao Fator Intrínseco (produzido no estômago), a B12 é absorvida no final do intestino delgado. Só para relembrar: para a B12 ser absorvida em condições fisiológicas, ela deve estar ligada ao fator intrínseco.

Precisamos absorver, para manter os níveis de B12 no organismo, cerca de 1 mcg de B12 por dia. A recomendação de ingestão diária de 2,4 mcg para um adulto leva em consideração o fato de que conseguimos absorver a metade do que ingerimos numa dieta onívora, de forma geral.

A absorção intestinal é limitada. A B12 não entra aleatoriamente no organismo. No intestino há “seguranças” (receptores de B12) que permitem a entrada de cerca de 1 a 1,5 mcg de B12 a cada 4 a 6 horas. Dessa forma, se você pensou na matemática, calculou que, considerando 3 refeições, podemos absorver até 4,5 mcg de B12 por dia.

Pronto! É aqui que começa a confusão, pois medicina é diferente de matemática!!

Vamos começar pela manutenção e depois falaremos sobre o tratamento da deficiência.

MANUTENÇÃO dos níveis de B12

Nesse momento vamos entender que os seus níveis de B12 estão adequados, e pretendemos mantê-los adequados.

1- Com o uso da B12 diária, por via oral

A dose preconizada para isso é de 5 mcg de B12 por comprimido, no mínimo. Alguns suplementos no mercado apresentam doses maiores do que essa, como 10 ou 15 mcg. Não há problema em utilizá-los.

2- Com o uso da B12 semanal, por via oral

Há tempos atendi uma pessoa que fez o seguinte cálculo: se preciso ingerir 2,4 mcg de B12 por dia, isso significa que devo tomar uma dose única semanal de 16,8 mcg (2,4 mcg x 7 dias). Esse cálculo é lógico para a matemática, mas não para a biologia.

A dose de manutenção preconizada para ser tomada 1 vez por semana é de 2.000 mcg.

Mas por que devo tomar 2.000 mcg 1 vez por semana se consigo absorver apenas 1 a 1,5 mcg a cada 4 ou 6 horas? Não vou perder o que ingeri?

Mais uma vez: biologia e matemática são coisas diferentes.

Quando a B12 ingerida é proveniente da alimentação, ou de suplementos com baixas doses, a regra de absorção de 1 a 1,5 mcg a cada 4 ou 6 horas é válida, pois os “seguranças do intestino” (os receptores intestinais) conseguem limitar a entrada da B12.

No entanto, quando uma megadose de B12 é administrada ocorre um “arrastão de B12”, que entra no intestino passando por cima dos “seguranças”. Tecnicamente dizemos que a absorção de B12, que segue o processo de pinocitose, passa a ser por difusão.

Assim, apenas para ilustrar, a B12 é uma pessoa que quer entrar numa festa (dentro do organismo). Para isso ela chega na porta, onde está o segurança da festa (o receptor intestinal), que a deixa entrar conforme as suas possibilidades. No entanto, se há muitas pessoas (uma multidão) para entrarem na festa, elas começam a pular o muro.

3- Com o uso da forma injetável

Essa forma, deve ser utilizada apenas por vegetarianos que já seguem a dieta por um tempo razoável e que estão com bons níveis de B12. Para isso pode ser utilizada uma aplicação de B12 com cerca de 5.000 UI a cada 6 meses ou um ano.
A freqüência da aplicação é estipulada de acordo com o organismo da pessoa.
4- Com a alimentação


Muito cuidado aqui!! Os alimentos que contém B12 ativa são as carnes, queijos, leite e ovos, além dos alimentos enriquecidos.

A ingestão de B12 por meio de derivados animais precisa ser constante e em quantidade adequada. Apenas para termos uma idéia, a quantidade de leite necessária para conseguirmos uma quantidade diária mínima de B12 seria de cerca de 650 mL por dia.

Muitos vegetarianos que utilizam derivados animais, tendem a reduzir o consumo desses produtos, o que torna a ingestão de B12 ainda menor.

São raros os pacientes ovolactovegetarianos que atendo com níveis adequados de B12, após anos de dieta vegetariana.

Não complique! Dose a B12 no sangue!

A biodisponibilidade da vitamina B12 nos alimentos

De forma geral, a quantidade de B12 que conseguimos absorver dos seguintes “alimentos” é a seguinte:

– Carne vermelha – 56 a 77%
– Peixe – 42%
– Frango – 61 a 66%
– Leite – 65%
– Ovos – menos do que 9%

O teor de B12 nesses alimentos é variável (veja a tabela no meu livro: Alimentação sem carne – guia prático; na página 61)

TRATAMENTO DA DEFICIÊNCIA

Para elevar os níveis de B12 no organismo e assim tratar a deficiência há algumas possibilidades. Descreverei o que a literatura científica preconiza, e depois falarei sobre a minha esperiência em consultório.

Recomendações científicas.

1-    Forma injetável

Essa forma de tratamento é a mais antiga e mais conhecida pelos médicos. Sendo assim, é a mais utilizada e divulgada.

A quantidade de aplicações, a sua freqüência e a dose de B12 em cada aplicação deve ser levada em consideração de acordo com as características da pessoa tratada e da sua evolução frente às aplicações.

A B12 injetável pode ser comprada em qualquer farmácia, mas para a aplicação é necessária receita médica.

2- Via oral

A via oral também pode ser utilizada para tratar a deficiência, desde que o seu médico saiba prescrever a quantidade e freqüência necessária para tratá-la.

Assim, para os que não gostam de agulhas, há possibilidades terapêuticas seguras por via oral também.

Minha experiência em consultório.

Raramente tenho utilizado a via injetável, pois podemos obter o mesmo sucesso terapêutico com a via oral por tempo prolongado. O uso da B12 dessa forma parece manter os níveis elevados por mais tempo e corrige melhor (quando comparado com a injetável) as manifestações decorrentes da sua carência.Para utilizá-la por via oral na correção da deficiência, a dose é elevada e por tempo prolongado.

Alimentação sem carne

One response to this post.

  1. Posted by Yamilet on Outubro 9, 2010 at 10:11

    Olá dr, cómo está? Gosto mto da forma como explica este articulo….
    Estou a comunicarme para pedir alguma sugestão(dclpe se tenho algum erro, pois meu portugués não é mto bom).
    Sou de Cuba, Ciudad Habana, tenho 34 anos Sou terapeuta e estou a viver aqui em Portugal há quase 2 anos…há 1 semana voltei de férias em meu país..lá(em Cuba) fiz estudo de rutina e resultou que tenho Anemia Megaloblástica, pode imaginar o preocupada que estou.
    Em Cuba, só temos B12 injetável…por isso pensei aqui começar de imediato com o tratamento por via oral..más só vejo nas farmacias(em algumas, porque em outras não há)..B12 de 1mg e de 2mg.
    Estou mto preocupada…recomendaron-me em Cuba B12 de 10 000mg…e ácido fólico de 5mg(estos trouxe de Cuba)
    Se a dosis de B12 é elevada para meu caso, então cuántos comprimidos debo tomar por dia?
    Por favor, tente ajudar-me com alguma resposta, bem estou a precisar.
    Muito obrigada
    Os melhores cumprimentos.
    Yamilet

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